5 de fevereiro de 2013

A Força da Pulga - uma história por dia

A FORÇA DA PULGA
António Torrado

escreveu e

Cristina Malaquias ilustrou

 

O homem das forças achou uma pulga. Prendeu-a entre os dedos e disse-lhe:

– És um ser insignificante e reles. Como te atreves a aparecer ao pé de mim, que sou o homem mais forte do mundo?

Respondeu a pulga:

– Fraca serei, mas, se eu quiser, levanto-te em peso. Aposto contigo.

O homem riu-se da prosápia da pulga. Ia a castigá-la pelo atrevimento, mas ela escorregou-lhe pela polpa dos dedos e desapareceu.

Estava já o homem das forças a dormir, quando a pulga se chegou, de novo, a ele. Passeou pelos lençóis e
procurou-lhe o quente do corpo. Num sítio azado, por altura dos rins, ferrou-lhe uma grande dentada.

O homem, que estava no mais fundo do sono, mesmo assim, sentiu-se. Ergueu o corpo, apoiando-se na nuca e nos calcanhares e coçou, instintivamente, o lugar picado.

A pulga escapuliu-se-lhe às unhas e pregou-lhe outra ferroada, no mesmo sítio. Mais se arqueou o corpo do homem das forças, levantando ainda mais alto os lençóis que o cobriram.

Quem não soubesse a razão destes movimentos, acharia que o homem estava a ser soerguido e levado ao colo por uma escondida força, superior à dele.

E estava.

O homem das forças acordou, atormentado pela comichão, mas a pulga nem se deu ao trabalho de cobrar-lhe a aposta. Com certos casmurros, quanto menos conversas, melhor.

E, aqui para nós, com aquelas duas chupadelas de sangue já se sentia bem paga…

FIM
 
Saudações encantadas!
Uma história por dia nem sabes o bem que te fazia!

Sem comentários:

Enviar um comentário